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quinta-feira, 29 de novembro de 2012 1 comentários

{IV} Romeu & Violeta - Decidido (Parte 2)




    Quando o sinal tocou para o intervalo, peguei meu iPhone e, depois de conectar o fone no aparelho, os encaixei em meus ouvidos. Era a aula de História, o assunto era sobre a Mitologia Nórdica. A Sra. Rodrigues afirmou com veemência que o assunto ia cair nos próximos vestibulares, mas eu não acreditei, aliás, eu acho que ninguém acreditou. Eu ainda guardava o material dentro da mochila quando saí, junto de Christian, da sala de aula.
    – Finalmente essa bendita aula acabou! – exclamei para ele, substituindo o “Finalmente vou poder falar com Violeta!” que quase deixei escapar. Christian me olhou desconfiado.
    – Cara – arquejou ele de forma monótona. – Tenho que falar com o treinador. Ele me disse que se eu não aumentasse a nota em Física, seria colocado como reserva no próximo jogo. Vou tentar convencê-lo com pelos menos um cinco.
    – Vai lá – eu disse, tentando esconder minha satisfação por saber que eu ia poder executar meu plano sem ele por perto.
    – Você desistiu de falar com a garota do primeiro ano, não é? – Ele parou e me segurou pelo ombro, freando a caminhada pelo corredor. Minha satisfação sumiu como a torta de chocolate que dava na cantina da escola às terças-feiras.
    – Não! – vociferei de maneira incomum e ele enrugou o rosto como uma folha de papel amassada. – Quero dizer... o nome dela é Violeta.
    Algumas das muitas pessoas que passavam no corredor trombavam em nós, mas estávamos tão absortos na conversa que nem demos importância. Um corredor movimentado há essa hora não era um bom lugar para se sentar, tomar chá e conversar sobre a vida alheia dos vizinhos.
     – Não se esqueça de suas prioridades. – Christian falou de um jeito que, por um fragmento de segundo, eu achei que fosse minha mãe. – O treinador sempre diz que isso vem em primeiro lugar.
    – Não vou esquecer! – disse com um sorriso de entendimento sem mostrar os dentes; tirei a mão dele do meu ombro e prossegui, sem a menor dificuldade, a caminhada pelo corredor movimentado.
    Quando Christian havia passado a ligar para que o treinador dele falava fora da quadra de basquete? O que será que está acontecendo com ele? Desde quando ele se importa com a biblioteca?, pensei – mas foi tão claro que achei que tivesse dito em voz alta. Lembro-me quando disse no ano passado que ia ajudar na biblioteca, então, depois de embrulhar a cara como fez há pouco, mas com um toque de nojo, ele me disse: “Cara, você é otário?”. Tinha alguma coisa errada. Será que ele não quer que eu... Não!, antes de pensar, me certifiquei que minha boca estava bem fechada...
    Fiquei tão ansioso que me esqueci de colocar uma música para tocar no iPhone. Christian deve ter percebido, porque falou comigo sem elevar o tom de voz. Tirei o aparelho do bolso e, sem parar no corredor, selecionei “Turn It Off”, do Paramore. Quando estava quase chegando ao pátio, uma mão pesou sobre meu ombro novamente, fazendo-me virar bruscamente e então eu disse em um tom enérgico:
    – O que foi agora, Christian?! – abaixei o tom da voz na última sílaba da frase, quando vi que quem me parou foi Edmundo, e não meu melhor amigo. Ele me olhava como se eu tivesse manchado suas cuecas na lavadora. Tirei os fones de ouvido. – Ah, cara, desculpe. Pensei que fosse...
    – Aonde você pensa que vai? – Edmundo era mais alto que eu; foi a primeira coisa que, depois da expressão em seu rosto, me fez temê-lo. A segunda foi que o efeito de garoto inocente que seus cabelos loiro-escuros davam habitualmente, não estava funcionando. – Te vi passar reto pela porta da biblioteca de lá do balcão. Vou precisar deixar a biblioteca por alguns minutos e você precisa estar lá para segurar as pontas até eu voltar.
    – O que vai fazer? – perguntei, tentando não parecer alterado e nervoso ao mesmo tempo. – Eu também vou precisar sair só por alguns minutos – em parte eu estava mentindo. Não sabia quanto tempo levaria para falar com Violeta... bem, se eu conseguisse falar.
    – Não te interessa, Romeu – pela primeira vez ele falou comigo em um tom irritado. Considerei que houvesse um motivo sério para ele sair ter que sair desta forma, pois não era de sua natureza descumprir seu compromisso com a biblioteca. – E se eu fosse você não demorava aqui, porque quando eu saí de lá, tinha uma fila bem grandinha.
    (...) de garotas interessadas em mim, completei a frase dele mentalmente. Mordi a língua para não praguejar. Eu estava decidido; finalmente havia tomado coragem para enfrentar o Lex Luthor... ou melhor, a Lois Lane, e Edmundo veio com um compromisso fora do seu Reino dos Livros. Droga!, pensei, desta vez torcendo para que saísse de minha boca.
    De repente, Edmundo me fitou com estranho interesse.
    – O que você pretendia fazer? – seus olhos claros sumiram quando ele os semicerrou.
    – Eu-eu... – não queria falar, porque o que eu pretendia fazer não justificaria a escapada, então disse o que o faria esquecer o assunto sem que eu precisasse apagá-lo com uma pancada na cabeça: –... vou para a biblioteca.
    Corri na contramão pelo corredor que estava um pouco vazio, sentindo o olhar de Edmundo pesar em minha nuca. Cheguei à biblioteca ofegando, e sem tirar a mochila das costas, fui atendendo os alunos da grande fila que se formava em frente ao balcão.
    Percebi que Violeta era um assunto delicado para mim e que seria muito difícil falar com ela. Eu estava torcendo para que uma onda de coragem atravessasse meu corpo novamente na manhã seguinte, porque seria o dia que eu, realmente, iria falar com ela.




NOTA: Para os atentos, houve uma pequena mudança no texto que será mantida como padrão, e em breve os textos da crônica já postado serão adequados da mesma forma.