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domingo, 3 de fevereiro de 2013

O fim e um novo começo

"One more spoon of cough syrup now."

Eu não estou escrevendo isso para privilegiar meus pouquíssimos leitores com mais um texto emotivo. É um desabafo. 
    Era quase três horas da madrugada do último domingo e eu ainda não havia conseguido pegar no sono. Eu sabia o motivo disso, porque estava corroendo meu interior a cada segundo que passava, como se eu tivesse tomado soda cáustica liquefeita. Não aguentava mais minha cama; ficar sob os cobertores era como usar uma camisa de força. Então, sem qualquer pudor aos meus compromissos marcados para depois do amanhecer, levantei-me e fui até o terraço do sobrado onde moro. Por incitação do Destino, olhei para céu noturno. Fiquei surpreendido com o negror abobado de estrelas cintilantes em diversos graus, colocadas em posições assimétricas, permitindo-me imaginar várias formas ao ligá-las como pontos. 
    Escritores escrevem sobre estrelas, mas isso não significa que eles as veem todos os dias. Confesso que em meses, só olhei para o céu à noite no Réveillon. Mas a visão foi incrível, me dando uma súbita vontade de chorar. Nessa parte que minha aflição entrou. Toda e qualquer pessoa até com o mais baixo grau de maturidade sabe que o amor é um sentimento mortal. É baseado em escolhas e sacrifícios. Muitas vezes, os sacrifícios são consequências das escolhas e vice-versa. Tudo isso é dividido em diferentes níveis, e os maiores deles, levam as pessoas a morrerem pelo amor. Será que o amor que preenche meu peito irá propor apenas escolhas entre sacrifícios? 
    Olhando para aquela bela pintura sem moldura, me fez pensar na pessoa do qual meu coração pertence. Indaguei-me se ela estaria acordada naquele momento, olhando para o mesmo céu que eu. Isso me fez sentir ainda mais perdido. As contendas entre dois amores machucam muito ambos os lados, por mais curto que seja o período de tempo que isso dure. Eu estava e estou me sentindo muito culpado, com toda sinceridade. Nem a mais veemente suplicia de perdão poderia fazer as coisas se ajeitarem. “Ah, se eu pudesse voltar no tempo...”, como dizem por aí. 
    A verdade é que ninguém, que não esteja sentindo na pele, entende o que é a ambiguidade para um garoto. Não é como escolher alface ou tomate, e sim entre duas pessoas de carne, osso e sentimentos. Tudo estava normal até uma chama se acender outra vez, me fazendo escolher entre duas almas. As opções eram, exatamente, amar, ser feliz e normal ou amar com genuinidade, ser feliz e ser desafiado. Independente das escolhas que eu fizesse, haveria um sacrifício que machucaria mais a mim do que qualquer outra pessoa. Eu estava ciente das consequências, mas não pronto para assumi-las. Sabia que aconteceria depois que eu dissesse aquele trecho de uma música famosa “Às vezes o amor dura, mas, às vezes, fere” a uma das pessoas. 
    São sentimentos fortes, eu admito. Deixar esse conflito em quarentena, fez com que se transformasse numa bola neve descendo o penhasco: cada vez maior, pesada, fria e violenta. 
    Escolhi amar com genuinidade, ser feliz e ser desafiado. O prazer de ser desafiado está em meu sangue, embora eu nunca tenha deixado isso se aplicar aos sentimentos. Aconteceu por uma simples questão de princípios. Decidi encaminhar-me para o que pesava mais na balança, porque assim eu seria mais honesto. A consequência era uma reviravolta em minha vida e em meu futuro. 
    Mas será que fiz a escolha certa? Eu tinha certeza que sim. 
    A escolha interferiria em meus sonhos também, que são menores e talvez mais realistas. Formar-me em Letras e Literatura, ser escritor e usufruir das dádivas do amor verdadeiro. Não parece muito. Essa nova direção também faria com que minha vida se tornasse mais complicada, principalmente em minhas relações sociais e familiares. Talvez até bloqueasse uma das minhas expectativas profissionais. Mas eu estava arriscando, por mais que fosse um futuro próximo. 
    Pergunto-me se minhas inspirações e ídolos deixaram, pelo menos uma vez, que o amor interferisse em seus sonhos. Se sim, não encontro em suas biografias. Então sacrificaram os sentimentos para que pudessem atingir seus objetivos? Mas talvez esse seja o segredo do sucesso profissional. Assim vejo que escolhas e sacrifícios estão em toda parte!
    Eu pareço diferente? Sinto-me diferente. Tudo que eu sempre quis era ser normal e poder sentir isso. Ser julgado, criticado e acusado de ser naturalmente problemático e imaturo não é fácil para um adolescente. Tudo isso parece um apelo por atenção de um sentimentalista, eu sei. Mas eu precisava disto porque estou outra vez sofrendo pelo amor, que é um jogo perigosíssimo. Nos deixa insanos, entorpecidos e sem fôlego. Por isso vejo que, atualmente, isso não é para mim. Sim, estou desistindo do amor, sacrificando-o pelos meus sonhos. Não o quero mais. Este é meu último ano do ensino médio, quero estudar, jogar futebol e ter uma formatura legal. Por que me preocupar com sentimentos truculentos? Caí nesse jogo, mas não quebrei o meu talento. Vou continuar escrevendo, trabalhando avidamente na obra literária de minha vida.

Por isso, declaro que esse texto é o fim para um novo começo. Não digitarei mais textos para esse blog. Sei que há crônicas que pedem um desfecho e que ainda não postei um texto pessoal relatando o quanto estou feliz. Amadureci e melhorei minha escrita por este meio virtual, mas não posso continuar. É como a morte de Edwiges em Harry Potter e as Relíquias da Morte, que significou o fim da insegurança e inocência de Harry. Sou grato aos leitores e às pessoas que me incentivaram a escrever continuações das crônicas para manter o blog ativo. Esse não é meu último texto, podem ter certeza. Talvez, um dia, minhas palavras poderão ser encontradas na sessão de ficção de uma livraria qualquer.

1 comentários:

Mayra Borges disse...

Poxa que pena que só conheci o blog justamente quando você decidiu não mais postar aqui, andei lendo seus textos, são ótimos. É mesmo uma pena.

Ontem eu estava olhando o céu e ligando as estrelas como você mesmo falou, gosto de fazer isso, não consigo dormir sem olhar para es estrelas.

A forma como você de amor é bem diferente da que estou acostumada a ver por ai, é mais infeliz e dolorida, mais realista. O amor não é o conto de fadas que muitos pintam por ai. Gostei muito daqui.

Beijos

www.eraoutravezamor.blogspot.com

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