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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

{V} Romeu & Violeta – Utopia Alucinógena



Subitamente despertei como se alguém tivesse jogado um balde de água fria no meu corpo: ofegante e assustado. Sentei, apoiando-me nos braços. Demorei a me acalmar e prestar atenção ao redor. Não era minha cama. 
    A grama sob meu corpo era tão macia que eu achei que fosse sintética. Mas não era, eu sentia o cheiro da natureza que me cercava. Em um dos extremos, uma floresta sombria, composta por árvores altas, cipós espessos e muito lodo, parecia um cenário de teatro. Uma muralha verde. Do outro lado havia um lago, cujos limites eu não enxergava. Suas profundezas eram escuras e lamacentas. Era tão calmo que eu me perguntei se estava congelado. O sol estava fraco, a ponto de eu não precisar procurar uma sombra. O lugar parecia tão inócuo e agradável... 
    Mantive-me sentado. Minhas roupas estavam mais leves do que de costume... Meus olhos se fixaram no infinito horizonte do lago, enquanto eu tentava me lembrar que lugar era esse. Não conseguia. Meus pensamentos estavam dispersos. Os intervalos da minha respiração eram inacreditavelmente longos, como se dependesse da minha vontade e não da minha sobrevivência. Coloquei a mão sobre minha caixa torácica: se enchia e esvaziava lenta e suavemente. Ufa! Estou vivo, pensei. Não era o purgatório. Não desta vez. 
    As dúvidas se extinguiram quase instantaneamente quando ouvi passos leves atrás de minha nuca. Hesitei antes de me virar. Não consegui conter o sorriso se envergava em meu rosto; quase pude ouvir o ranger dos meus músculos se distendendo violentamente. A paisagem começou a ficar realmente interessante: Violeta caminhava em minha direção, sorrindo intimamente para mim. Estava com os pés descalços, usava uma calça branca e uma blusa com alças finas nos ombros. Estava linda, cintilava quando os raios solares encontravam sua pele. 
    É ela mesmo?, me perguntei em pensamento. Minha voz mental tinha a intensidade elevada e ecoava pela minha cabeça, saindo pelos meus ouvidos. Mas isso não era importante, o que importava agora era Violeta, que já estava sentada ao meu lado, me encarando com um sorriso. Eu não disse nada, esperei que ela dissesse... Ficamos assim, apenas estudando um ao outro. 
    Eventualmente, os olhos dela corriam pelo local e voltava para mim. Ela parecia estar familiarizada com o lugar, muito ao contrário de mim. Não alterava o sorriso, como uma pintura sem moldura. Uma brisa momentânea esvoaçou os seus cabelos negros e brilhantes. Eu estava hipnotizado, não olhava para nenhum outro lugar a não ser para ela
    Violeta fixou seus olhos em mim e minhas bochechas coraram. Eu me sentia vivo e eufórico ao lado dela. Senti sua bela anatomia quente mais próxima da minha. Comecei a respirar incontrolavelmente, vívido. Borboletas agitaram suas as em meu estômago... Ela estava tão perto, seus lábios levemente avermelhados... seus olhos castanho-escuros... 
    – Violeta... – consegui balbuciar. 
    As mãos dela seguram meu rosto pelas extremidades; suas unhas estavam sem esmalte. Seus olhos estavam direcionados para apenas um lugar: minha boca. Estremeci cada parte do meu corpo. Ainda me apoiava pelos braços. 
    – Eu... – disse. Foi a única coisa que consegui fazer antes de ela me beijar. Quando seus lábios molhados encostaram o meu, seus olhos já estavam fechados. Pude senti o calor de sua pele, e sua respiração acelerada se espelhar pela superfície oleosa do meu rosto. Fechei meus olhos. 
    Nossos rostos dançavam, acompanhando o movimento cadenciado de nossos lábios. Eu não a compreendi, não sabia o porquê dessa ação de Violeta, apenas segui em seu embalo. Minhas mãos seguraram sua cintura, ao mesmo tempo em que seu corpo pesava sobre o meu. Sucumbi o seu peso e deitei na grama. Ela estava por cima, ainda me beijando. Minhas mãos correram pelo seu corpo, acariciando. Simultaneamente, ela fazia cafuné em cabelo cacheado e volumoso. Era tão bom... 
    Nossos corpos estavam grudados um ao outro. Era mais do que uma sessão de carinho e atos lascivos. Era um momento perfeito. Parecíamos almas gêmeas... Violeta parou de repente. Um som ensurdecedor invadiu nossos ouvidos e nos fez contorcer os rostos. Era eletrônico, alto e excruciante. Ridiculamente familiar para mim... Estava claro em nossas expressões o quanto queríamos que aquilo parasse. O que estava acontecendo?...
    Meus olhos se abriram súbita e involuntariamente. Estava deitado na minha cama, situada em um extremo do meu quarto azul-céu. O rádio despertador soava grotescamente. Era hora de levantar e ir para o colégio. Desliguei o despertador com má vontade. Sentei-me.
    Minha última lembrança era sobre a noite passada, quando fui dormir emburrado por não ter conseguido falar com Violeta no colégio.

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